Trepadeira glabra (exceto ovário e fruto imaturo) até pubescente; base do caule espessa; ramos subcilíndricos.
Estípula 3-13×0,5mm, triangular-subulada; pecíolo 0,8-5cm, ápice com 1 par de nectários côncavos, próximos ao ápice; lâmina membranácea, 4,6-13,4×5,1-16,4cm, 3-lobada, base arredondada a cordada, porção unida 1,6-4,3cm, lobos oval-elípticos, serreados e glandulares, central 3-9,1×1,5-6,3cm, laterais 2,2-6,8×1,1-4,8cm, divergindo a 44º-120º.
Flor solitária, 4-5,5cm, vistosa; pedicelo 1,6-6cm, articulado a 8-10mm; brácteas verticiladas, 1,2-2,8×0,8-2,2cm,
ovadas, serreadas a pectinadas e freqüentemente glandulares próximo à base; hipanto 5×10-14mm, campanulado;
sépala carnosa, 15-21×7-8mm e arista 5mm, oblonga, dorso verde e carenado, ventre alvo; pétala 16-24×3-4,5mm, oval-oblonga a oblongo-obovada, alva; corona em 5-7 séries, as 2 externas 1-1,2cm, filiformes ou subuladas, vinosas a azuladas na base ou acima, alvas no resto, internas dentiformes, vinosas; opérculo ereto ou curvo, 1,5-2mm; nectário anular 0,5mm, incurvo; límen membranáceo, 3-5mm; androginóforo 11-12mm, espessado próximo ao meio; filete 7-11mm, antera 9-10mm; ovário 3-5,5×3-3,5mm, ovóide a globoso e tomentoso a seríceo; estilete 10-14mm.
Baga 3,2-4,6(-6,9)cm, arredondada a obovadoelíptica, vinácea, amarelada ou verde-amarelada; semente 5-6×3,1-3,3×1,6-2,3mm, obovada, ápice emarginado e mucronulado, enegrecida, foveolada.
Ocorre em todo o Brasil, onde aparentemente é nativa, Paraguai e norte da Argentina, Jamaica (subespontânea comum) e algumas ilhas das Índias Ocidentais (Bermudas, Porto Rico, Martinica e Ilha Trinidad), na América Central, norte da Venezuela e Equador. Em São Paulo ocorre no sudeste do Estado. D5, D6, D7, D8, E5, E6, E7, E8, E9, F5, F7, G6: espécie heliófita e higrófila, comum na borda de matas, em florestas perturbadas e locais antropizados, mas também dentro de florestas intactas, cerrados e escrube, tanto em solos bem drenados como em encharcados. Coletada com flor entre julho e abril e fruto entre setembro e abril. Economicamente é a principal espécie, os frutos são comestíveis e em São Paulo a produção comercial se estende de novembro a agosto. A planta tem emprego medicinal, como chá calmante, e é ornamental. As sementes maceradas são vermífugas.
Degener (1932) distingue P. edulis f. flavicarpa O. Deg., que teria se originado por mutação, apenas em função dos frutos amarelos e da presença de glândulas nas brácteas, características apresentadas por P. edulis var. ferrucifera
Mast. Entretanto, Killip (1938) considerou a distinção de variedades e formas, para esta espécie, inconsistente, pois
as variações, tais como o formato e coloração dos frutos, comprimento da corona e grau de fendilhamento das
bractéolas, não eram correlacionadas entre si. Espécimens de P. edulis cultivados no IAC apresentam frutos roxos e
glândulas nas brácteas. O mercado nacional valoriza frutos amarelos, enquanto em outros países (por exemplo
Inglaterra) os roxos são valorizados, mas isto não justifica a adoção de entidades taxonômicas naturais para estas
variantes, exclusivamente em função da cor do fruto ou outros atributos inconsistentes com a biologia da espécie. Em
função da possível origem de P. edulis f. flavicarpa O. Deg., a partir de mutação, e de sua pequena amplitude de variação, é apropriado tratá-lo como um cultivar, ou seja P. edulis ‘flavicarpa’. A espécie possui cultivares com frutos amarelos, roxos ou ainda avermelhados (Ellison 1995) e é extensamente cultivada na Colômbia, Peru, Venezuela, Equador, África do Sul, Sri Lanka, Austrália, Papua Nova Guiné, Fiji, EUA (Havaí), Taiwan e Quênia, entre outros, sendo que o Brasil é o maior produtor (Menzel et al. 1988, Meletti et al. 1994). Em São Paulo, a maior região produtora é a Alta Paulista (Meletti 1996), onde, entretanto, não existem coletas de plantas nativas. Foi ilustrada na obra princeps e por Masters (1872), Cervi (1992) e Deginani (2001), entre outros. Excepcionalmente, a planta adulta pode apresentar alguma folha inteira.
Fonte: BERNACCI, L. C. Passifloraceae. Parte integrante da Flora Fanerogâmica do Estado de São Paulo, Instituto de Botânica, São Paulo, v. 3, p. 247-274, 2003.