Arvoreta ou arbusto. Entrenó distal 2-4,5 cm comprimento.
Folhas inteiras, lâmina 9-26,5×3,5-15,5 cm, tênue-cartácea a coriácea, largamente ovado-lanceolada a oblongolanceolada, base subtruncada a obtusa, ápice longamente acuminado a bífido até emarginado (col. Ferreira 5393; col. Sanaiotti 197), 7-9-nérvea, até folhas bilobadas, lobos concrescidos em até 2/3 do comprimento total, arqueadodivergentes, acuminados, nervura marginal inconspícua, face superior glabra ou pilosa na nervura central impressa, nervuras secundárias impressas, face inferior pubérula a esparsovilosa ou hirsútula, especialmente nas nervuras primárias e/ou secundárias, tricomas glandulares presentes, nervuras primárias muito proeminentes, secundárias mais ou menos proeminentes, terciárias pouco proeminentes; pecíolo 0,5-5 cm compr., delgado, pubérulo. Estípulas lineares, ca.5-7 mm compr., caducíssimas a rudimentares; nectários extraflorais cônico-ovóides, 1-2 mm compr., exsertos.
Inflorescência até 25-60 cm compr., curto-pedunculada; pedúnculo 1,5-3,5 cm compr.; eixo racemiforme, delgado, pubérulo; inflorescências parciais 2-floras; folhas alternifloras ausentes, reduzidas a pares de brácteas nectáriferas, ca.2-4 mm compr., lineares ou rudimentares. Botões 12×0,4 cm na antese, lineares, ápice 5-cuspidado ou subcuspidado, setas caducas a rudimentares, 5-costados em maior ou menor grau, tomentelos, com tricomas glandulares escassos. Flores com pedicelo 1,2-2 cm compr., brácteas segunda ordem e bractéolas lineares até rudimentares, hipanto cilíndrico a urceolado, 1-2×0,7-0,8 cm compr., internamente glabro; cálice fendido na antese em 2-3 lobos reflexos ou eretos, retorcidos ou não, ca.5,5 cm compr.; pétalas lineares, 2,5-4×0,08 cm, externamente
pubérulas a glabras; estaminódios 0, estames 10, anteras iguais, lineares, não loceladas, filetes 5,5-8 cm compr., glabros; coluna estaminal presente, 7 mm altura máxima, apêndice ligular ausente, internamente viloso-tomentosa,
externamente glabra a pilosa na junção dos filetes; gineceu compr. desconhecido, estigma claviforme, um dos lados aplanado-escorrente, ovário tomentelo, estipe 4 cm compr., pubérulo a glabrescente do ápice para a base.
Legume deiscente, valvas 12-22×1,4-1,8 cm, pubérulas, estipe 4-5 cm compr.; lobos funiculares filiformes.
Sementes 12 x 6 mm.
Ocorre na Bolívia (Sperling & King 6414, CTES), Peru (Foster 8687, MO), Venezuela (Castillo 3394, MO) e Brasil, nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins (Fig. 23). As localidades de ocorrência registradas nas etiquetas dos materiais examinados pertencem às Folhas IBGE (1960): NA-19, NA-20, NA-21, SA-20,
SA-21, SB-20, SB-21, SB-22, SC-20, SC-21, SC-22, SD-20, SD-21 e SD-22. Em capoeira, floresta de terra firme, floresta estacional, floresta semidecídua, floresta de galeria mesofítica (Silva 4039), cerrado de Santarém (Kuhlmann, 1823), campo natural em Humaitá (Ferreira 5393), campo de pedregulho em Humaitá (Sanaiotti 197), campo do Tabua no Alto Tapajós (Egler 1319). O hábito de arvoreta varia entre 6 m x 8 cm col. (Prance 15342) ou 7 m (Cid Ferreira 7400) até 12 m de altura (M.G. Silva 3441). O arbusto pode ter 1,5 m de altura, em campo de pedregulhos e bambus de Humaitá (Sanaiotti 197). O hábito de arbusto semiciófilo flexível, ca.1,8 m foi registrado na coleção M.A. Silva et al. 4039 e o de arbusto escandente e herbáceo na extremidade distal por vários outros coletores.
Floresce de outubro a março e frutifica junho a outubro. Bentham (1870) descreveu B. longicuspis com folhas inteiras 7-9-nérveas, glabras ou face inferior foliar pubescente, entre outros caracteres e B. bicuspidata com folhas
bilobadas 9-11-nérveas, face inferior foliar rufopubescente, entre outros. Há um gradiente de variabilidade quantos aos caracteres citados nas duas descrições referidas acima e, não se configurou uma delimitação precisa entre as
citadas espécies, de modo que decidiu-se adotar B. longicuspis como uma espécie única. Alguns espécimes examinados coletados na região do rio Purus, como, por exemplo, Kuhlmann 902, Prance et al. 13649, Prance et al. 16397, apresentam folhas com ápice bífido, mas não chegam a configurar lobos divaricados, concrescidos em 2/3 como descrito para B. bicuspidata. Ficou caracterizada nesse caso uma gradação entre o tipo de folha inteira e a folha bilobada típica descrita para B. cuspidata.
Por outro lado a separação entre B. longicuspis e B. longicuspis var. paraensis também era baseada em tipo de pilosidade dos ramos e do dorso da folhas (Ducke, 1925a:54), fracamente pubescente, hipanto 1,5-2 cm compr., ovário com indumento pouco espesso na primeira e dorso foliar pubescente, hipanto 1 cm compr., ovário com indumento espesso na segunda. No entanto, com o aumento das coleções na região amazônica, essas características não se mostraram consistentes. Os espécimes coletados em mata de terra firme ou capoeira, no Amazonas, Acre,
Rondônia (parte) e Pará (Oriximiná, Trombetas) apresentam as seguintes características em comum: folhas inteiras com ápice íntegro ou bífido até bilobadas em ca. de 1/3 do comprimento total da lâmina, tenuemente cartáceas, junto com botões 5-cuspidados e com bractéolas lineares, quando em botão jovem e o indumento do dorso foliar é apresso, inclusive nas nervuras primárias até esparso-viloso nas nervuras primárias e secundárias. Esses materiais foram encontrados nas folhas Na20, SA-20, SB-20, SC-20 e parte da SA-21, no oeste da Amazônia. Nos campos de Humaitá
(AM), campos arbustivo e mata de terra firme ou capoeira do Pará e na florestas secas ou cerrado do Mato Grosso (Xavantina) tem folhas sempre inteiras, firme cartáceas a coriáceas, botões emarginados e bractéolas rudimentares,
indumento do dorso foliar apresso e esparsoviloso nas nervuras principais até vilosotomentoso em toda a superfície.
Esses materiais foram encontrados nas folhas SA-21, SA-22, SB-21, SB-22, SD-20, SD-21, SD-22. Os espécimes de Humaitá ofereceram um gradiente mata terra firme (Brandtjes 100501) para os campos naturais (cols. Cid Ferreira
5393, Sanaiotti 197), o primeiro de mata de terra firme, com folhas inteiras acuminadas, tenuemente cártáceas, os demais com folhas também inteiras, porém largamente ovadas, ápice agudo a obtuso ou emarginado, firme cartáceas a coriáceas. Bauhinia longiscuspis compartilha com B. dubia o mesmo tipo de coluna estaminal, estigma e apresentam flores com filetes maiores que o dobro do comprimento da pétalas. No estado do Pará as duas espécies
são en-contradas na área correspondente à folha SA-22 (48º-54ºWx0º-4ºS). Também as coleções da Serra dos Carajás, folha SB-22, deixam dúvidas quanto à separação entre as referidas espécies.
Fonte: VAZ, A. M. S. da. F. & TOZZI, A. M. G. A. Bauhinia ser. Cansenia (Leguminosae: Caesalpinioideae) no Brasil. Rev. Rodriguésia, v. 54, n. 83, p. 55-143, 2003.